Abrir Janelas - Outras Formas de Ver
Organizada
pelo CRTIC das Caldas da Rainha, decorreu no passado sábado, no auditório da
CMCR, a sessão de encerramento da Ação de Formação – “Necessidades Educativas
Especiais: Diagnosticar, Intervir e Partilhar”.
Esta formação
no domínio da cegueira/baixa visão surgiu como resposta às necessidades dos
docentes do Agrupamento de Escolas Raul Proença, o qual foi considerado, já
durante o presente ano letivo, escola de
referência para alunos cegos e baixa visão para todos os níveis de ensino.
Nesta última sessão estiveram em destaque as questões da mobilidade e da acessibilidade que foram tratadas pelos diversos convidados.

Durante a manhã fomos introduzidos no
mundo fascinante do treinamento de cães guia através da exposição da Dra. Ana
Filipa Paiva, responsável pela
Escola de
Cães Guia para Cegos de Mortágua, certificada internacionalmente para o
treinamento destes ‘amigos’ indispensáveis para a mobilidade e aumento da
qualidade de vida da pessoa cega. Entre muitas outras, ficámos a saber que face
à procura e às exigências da sua formação, a lista de espera para a obtenção de
um cão guia demora, em média, três anos e que estes são entregues gratuitamente
aos candidatos.
Na Parte da tarde, o Dr. Miguel Neiva, criador do Projeto ColorADD, um projeto inovador que em muito pouco tempo ganhou
prestígio internacional, como um código universal de reconhecimento de
cores que visa facilitar a vida aos portadores de daltonismo que constituem
cerca de 10% da população masculina mundial. Tratando-se de um défice invisível
e muito pouco divulgado pelos próprios portadores, o daltonismo, nas suas
diversas formas, causa constrangimentos e dificuldades inimagináveis na vida
quotidiana, basta pensar o quanto a sociedade atual é centrada no aspeto visual
e na cor (cerca de 90% da comunicação no mundo é feita através da cor).
Atentemos na importância desta nos sinais de trânsito, nos hospitais (os
medicamentos, os percursos internos, as cores na triagem – modelo de
Manchester, …), nas escolas, no vestuário, etc. Verdadeiro ovo de Colombo, pela
sua simplicidade, pois baseia-se em símbolos atribuídos às cores primárias e
depois a combinações destes, exemplo:

Permitindo assim que cerca de 350 milhões de pessoas em todo
mundo deixem de sofrer silenciosamente com este problema e com a discriminação
que ele por vezes encerra. Que o diga o nosso Carlos do Carmo ou, como poderia
ter dito um dos mais famosos ‘daltónicos’ de sempre, Van Gogh.
A sessão
terminou da melhor forma com o depoimento tocante da Dra. Ana Paula Sousa que, na primeira pessoa, nos relatou a
experiência de quem nasceu com limitações visuais acentuadas e acabou por cegar
totalmente na infância, mas que apesar disso, ou talvez por isso, teve e tem um
percurso de vida totalmente preenchido com atividades que vão da natação à
música; com a sua vida de mulher e de mãe; terminando num percurso académico
brilhante que, por poder servir de exemplo, referimos nos seus traços gerais:
Licenciada em Psicologia; Mestre em Ciências da Educação, com especialidade em
Psicologia da Educação; Pós-Graduada em Comunicação Alternativa e Tecnologias
de Apoio; Pós-Graduada em Formação Especializada em Alunos Cegos e com Baixa
Visão; Doutoranda em Educação, com a problemática "A didática do Sistema
Braille e o desempenho literácito de alunos com deficiência visual".
Este evento,
aberto ao público, que decorreu com o interesse e agrado geral dos presentes,
pode ser um contributo e um alerta para todos os que pugnam por uma sociedade
mais justa e inclusiva e talvez sirva para, futuramente, atrair também aqueles
que por inerência das suas funções devem ter um papel ativo a desempenhar nesta
matéria.